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Foto do escritorVictor Hugo Germano

Rule of the Robots - Martin Ford


Finalizei o livro Rule of The Robots, de Martin Ford, sendo uma ótima adição na série de livros que tenho lido sobre o impacto da Inteligência Artificial na nossa sociedade.


Uma alegoria interessante que o autor traz é de que IA se tornará a nova Eletricidade neste super ciclo de inovação, sendo um modelo mental útil para entender como a tecnologia vai evoluir e em última instância afetar todas as esferas da economia, sociedade e cultura.


Acredito que o livro complementa em ótima medida o que venho estudando sobre inteligência artificial, seguindo ponderado quanto ao ganho que a tecnologia pode nos trazer, e os seus riscos, em um tom positivista do uso dessas plataformas. Como um futurista, ele tendencia suas análises ao que as plataformas trarão de bom ao mundo, se limitando a descrever como as plataformas chegaram até aqui. Senti falta de maior aprofundamento sobre estado atual de implementação das soluções descritas, mas talvez isso seja minha própria expectativa sobre como analizar o futuro através de uma tecnologia que hoje em dia já apresenta problemas. O livro acerta em não ser utópico no uso de IA, ao mesmo tempo que apresenta uma visão crítica sobre seu impacto em emprego, governos e a vida das pessoas.


Entretanto gostaria de fazer uma sugestão: esse livro não se propõe a descrever profundamente nossos problemas atuais com o uso de inteligência artificial, o que pra mim é um erro. Importante se valer de autores mais críticos ao momento atual, como A Maquina do Caos e Armas de Destruição Matemática. Assim, você pode usá-lo como conteúdo complementar, tornando a leitura desse livro ainda mais proveitosa. Com excessão da discussão sobre o impacto em emprego, o livro se limita a explorar riscos de maneira rasa, relegando apenas ao final do livro pequenas referências.


Como o livro é de 2021, uma coisa interessante é o fato das empresas que são citadas no livro por vezes já deixaram de existir, mas o livro faz um bom trabalho em se manter bastante útil e seguir relevante. Gostei da forma como o livro trata questões de futurismo, perspectivas atuais e visão crítica sobre o futuro. Compromisso importante com aprofundar os conceitos e estabelecer uma linha mestra de entendimento. E com muito menos hype que outros livros mais de auto-ajuda de IA.



Gostei da definição que o livro traz sobre o que podemos esperar de cenário para a tal a Revolução da IA:

  • Poder de processamento e computação em Nuvem como mecanismo propulsor da maior parte da evolução no setor. Por anos relegado aos laboratórios de universidades, estamos no ponto em que escalar algoritmos através do uso de computação em nuvem gerou resultados impressionantes, mas podemos estar próximos do “fim” - o poder computacional necessário para atingir os próximos níveis de autonomia e inteligência pode consumir toda a energia do mundo, tornando-se inviável comercialmente

  • Democratização da IA através de ferramentas cada vez mais fáceis. Só existe ecossistema quando o ferramental disponível trabalha para diminuir a barreira de uso

  • Comunidade de Especialistas através de ecossistemas abertos. Nenhuma empresa é boazinha em abrir o código ou criar código aberto para o uso de IA. O interesse é construir uma comunidade tão grande e com conhecimento nessas ferramentas, que eventualmente a empresa se torna a principal referência do mercado, dificultando a chegada de novos players

  • Conectividade e IoT. Com dispositivos cada vez mais conectados e ubíquos ao nosso dia a dia vão ser alavanca de coleta de dados e transformação.

  • Dinheiro de Venture Capital. Principalmente no que se destina ao montante necessário para treinar redes neurais para alguns dos produtos. Nisso, as grandes empresas de nuvem estão muito melhor posicionadas que qualquer outro player.



O livro traz uma avaliação mais profunda sobre o desemprego e o impacto que automação tem gerado na população disponível. É preocupante o que possamos estar prestes a vivenciar em nossa sociedade. Inclusive propondo universal basic income como uma solução - seria esse o livro mais esquerdista e fã de IA já escrito? O autor descreve e propõe essa questão desde de seus primeiros livros, com o entendimento que estamos diante de um impacto tão grande na oferta e possibilidade de emprego, que não há como esperar que a geração de emprego e novas indústrias irá suprir a demanda.


Nesse ponto recomendo muito a leitura do Relatório do Fórum Econômico Mundial, descrevendo um cenário bastante sombrio para os próximos anos, em que aproximadamente 85 milhões de posições de trabalho serão perdidas, e trazendo uma análise sobre quais são as principais demandas e profissionais mais impactadas.



Esse livro deve ser lido em conjunto com A Máquina do caos, para que se possa entender de uma maneira mais completa o impacto atual da inteligência artificial no contexto mais amplo da atuação de empresas de tecnologia. O livro faz pequenas menções à influência de grandes empresas de tecnologia que estão hoje usando IA para maximizar seus lucros em detrimento do impacto social que elas podem causar, enquanto dedica todo um capítulo para descrever o impacto do avanço tecnológico da chinês como competidor real da hegemonia estadunidense.


Ele traz pequenas referência aos desafios atuais de polarização, vício e impacto político das plataformas de IA em redes sociais. É quase como se o fantasma chinês de um estado de vigilância não fosse comparável ao que estamos assistindo diariamente sendo executado por grandes empresas de tecnologia, de influência real governos ao redor do mundo e causado uma onda de polarização jamais vista. Esta é uma falsa dicotomia que o livro tenta pregar.



O Autor é bastante contundente ao defender o caso da regulamentação do uso de IA em diversos cenários, sob o pretexto de proteger o mundo democrático de chegar numa versão distópica de estado de vigilância, colocando a China como grande exemplo a ser evitado. Ele falha, entretanto, em não descrever como grandes empresas se valhem dessas ferramentas para, numa visão tão distópica quanto a Orwelliana, redes sociais seguem impactando governos ao redor do mundo, com o uso de IA para vender mais anúncios, conforme descrito no livro A Máquina do Caos.


Nos últimos dias, seguindo a tendência e predição do livro, o Artificial Intelligence Act foi aprovado com grande maioria pelo parlamento Europeu. Um grande passo para o uso de plataformas de IA na europa, e que pode se tornar um exemplo para outros países na busca por ferramentas mais transparentes e reguladas.

A medida, aprovada com ampla maioria, tem a expectativa garantir um conjunto de direitos fundamentais enquanto tenta não impedir a inovação. 


Entre os direcionamentos:

  • Delimitar o uso de ferramentas de Inteligência Artificial de propósito geral

  • Limitar o uso de Sistemas de Identificação Biométricos em todos os aspectos de garantir a lei

  • Eliminar completamente o uso de sistemas de Score Social e seu uso manipulativo por sistemas de IA

  • Direito aos consumidores de exigir transparência e explicações quanto a decisões tomadas por sistemas tocados por IA


Eu vejo com bons olhos esse movimento, e ele vai de encontro ao que os principais pesquisadores e autores da área estão falando: é necessário algum tipo de regulamentação para conter o uso indiscriminado da tecnologia em detrimento ao seu impacto comprovadamente negativo em diversas instâncias. É de extrema importância que o mundo democrático possa ter mais transparência no uso dessas plataformas quando elas tocam na vida social das pessoas.

A criação de ferramentas GenAI tem sido bastante discutido na comunidade técnica, principalmente pela crítica ao uso de propriedade intelectual sem autorização para criação de ferramentas como Midjourney, Dall.E e outras. O IA Act também prevê procedimentos legais para garantir que propriedade intelectual seja protegida adequadamente.



Em última análise, estou ansioso para ver como Bigtechs e Vendors vão responder à decisão, uma vez que são os maiores investidores dessas soluções.


O livro também tenta colocar AGI como sendo um dos grandes riscos para o futuro, mas de maneira positiva dá pouca enfâse no desafio. Não vou me aprofundar nesse tema neste post, pois pretendo escrever um específico. Como referência, o autor descreve 4 grandes desafios para Inteligência Artificial Geral:

  • Raciocínio de Senso Comum

  • Aprendizado não supervisionado

  • Entendimento de Causalidade

  • Transferência de Conhecimento



Eu daria uma recomendação forte de leitura desse livro - tendo em vista o contexto do autor e sua expectativa de traçar uma visão Tecnopositivista para o uso da inteligência artificial.

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