Resolvi marcar o início dessa jornada de descanso com uma viagem para um lugar incrível: Chaltén, na Patagônia Argentina.
Fui sem nenhum objetivo em mente, com a cabeça tranquila de aproveitar alguns dias na montanha, fazer trilhas, escalar e aproveitar a temporada de escalada na região. A última vez que estive foi em 2013, por apenas três dias. Muito pouco pra aproveitar.
Eu falo muito pouco disso no meu perfil profissional, mas minha vida pode ser definida como antes e depois da escalada. Me encontrei num esporte incrível, num estilo de vida exigente e muitas vezes obsessivo, que me fez conhecer lugares que nunca imaginei, e passar alguns perrengues importantes que fizeram história. Se eu pudesse resumir: todos os meus planos de vida envolvem escalada em alguma forma.
Durante esse período sabático, dois mundos aos quais pertenço se cruzam: meu lado empresário, palestrante e gestor com o mundo outdoor, trilhas e escaladas. É divertido compartilhar num único local ambos aspectos do VH indivíduo. Sempre vivi mundos desconectados, e minha persona profissional dificilmente aparecia no mundo outdoor.
Chaltén é conhecida como a Meca da escalada alpina. O mundo inteiro vai pra cidade pra tentar escalar as montanhas congeladas. Mesmo não tendo a intenção de me aventurar em alguma agulha esse ano, é impressionante acompanhar os amigos que há muito tempo vem para testar seus limites nas trilhas, travessias de glaciar, escalada no gelo e escalada em livre. Dedicação não é suficiente, e se deparar com ventos de mais 50km/h, pedras caindo do tamanho de carros e gelo são o mínimo para subir algumas das montanhas mais difíceis do mundo: obsessão e loucura andam bem juntas por aqui.
Chaltén também serviu para que eu de início em um hobby que ensaio há muito tempo: fotografia. Nada melhor que lugares bonitos pra esconder a minha falta de capacidade com a câmera. Eu sempre gostei de fotos, e no meu Instagram tento compartilhar imagens que fiz com o celular. Nunca tive coragem de comprar uma câmera para começar. Bem, nada melhor que esse sabático pra isso 😀. Podem dar pitaco a vontade que eu curto!
Tentando não parecer cabalístico, mas essa viagem 10 anos depois marca uma transformação: em 2013 foi quando a Lambda3 realmente começou a evoluir e passar de uma salinha com alguns consultores pra uma empresa com maior sustância. O Victor daquela época era cheio de empolgação e fanático em fazer a empresa acontecer. Todos esses anos depois, com tanta coisa que aconteceu na empresa, retorno de cabeça feita e coração empolgado, pra aproveitar sem ter que me preocupar com reuniões, trabalhos atrasados e ligações pra resolver alguma treta de última hora que não pode esperar a minha volta: enfim livre
Encontrei um livro de contos de ficção científica Solar Punk, barraca e saco e dormir e equipamentos de escalada e parti pra cidade.
Um coisa interessante: internet é uma porcaria em Chaltén, e isso se tornou mais uma oportunidade de aprendizado: desconexão (por pouco tempo ao menos), já que somente um café na cidade tem internet decente pra seguir o ritmo frenético de Twitter e redes sociais… foi bom desligar.
Além disso, com tantos amigos pela cidade, foi uma ótima oportunidade de passar um tempo com a galera que vejo pouco! E conhecer mais histórias de quem vem pra região.
Conheci inúmeras histórias diferentes, de todo tipo de pessoas, e uma única coisa em comum: as montanhas. Os bactérias & dirtbags, os profissionais de escritório em férias, os atletas profissionais, os rastafari vivendo o sonho de jah. Só a montanha importa, e todos aparecem por aqui para se conectarem com a natureza de forma diferente - seja escalando, fazendo travessias ou aproveitando a cidade.
Minha carreira pouco importa por aqui. Como paulista, é muito comum ser confundido com o seu trabalho: Na paulista eu sou o Victor, o cara de TI e Agile. Ninguém, em 20 dias, fez a pergunta mais comum de ouvir em Sampa: o que você faz? Trabalha com o quê? Em Chaltén sou só mais um fanático por pedra. É revigorante e curioso, pra me colocar num lugar positivo de humildade e respeito pelo que fiz, sem que isso me defina totalmente. Apesar disso, conhecer a real história das pessoas é fascinante. Pessoas que dedicam a vida a perseguir o esporte, em que o trabalho é só um meio pra aproximá-los da rocha, e não um empecilho. Ou que largaram um emprego fixo em escritório, para morar numa van viajando e trabalhando em bicos pela América Latina, escalando nos vários lugares incríveis entre Brasil e Argentina.
Em muitos aspectos escalada e essa vida outdoor é extremamente privilegiada: ter dinheiro para viajar, comprar equipamento, se manter na estrada não é para qualquer pessoa, e eu sigo consciente desse meu lugar de total privilégio de poder pausar minha carreira e não trabalhar, para aproveitar o descanso, o tédio e o mundo. Espero poder, através desse descanso multiplicar meu impacto para um mundo mais justo e inclusivo.
Entre as pessoas que conheci, me chamou atenção duas histórias: um casal de escaladores que estava há um ano e meio na estrada, dirigindo de NY até a Patagônia! Segundo eles, a maior dificuldade foi transitar as fronteiras com um cachorro, que sempre acaba demandando algum tipo de burocracia a mais que qualquer outra coisa, o projeto deles pode ser acompanhado pelo Instagram. Também conheci uma pessoa que está pedalando toda an Argentina subindo para o Ecuador, depois de pedalar pela mais de 20mil km pela Europa. Interessante conhecer a perspectiva de quem, há 9 meses, está na estrada conhecendo a região, dormindo onde der para seguir viagem. Foram 2 anos de trabalho, guardando dinheiro para essa viagem - sem instagram ou vaquinhas online, como é comum nos dias de hoje.
Também estive presente no Festival de Boulder de Chalten, que foi bastante divertido!
Foram também 20 dias de férias de livros técnicos e que me interessam profissionalmente para ler sobre SolarPunk, um subgênero de ficção científica que encara o mundo sobre um olhar de integração com a natureza e muitas vezes uma visão menos apocalíptica do futuro, tão comum pela influência que Cyberpunk & Asimov têm na nossa cultura.
No entretenimento atual vemos aos poucos surgirem visões diferentes, interpretadas em series como Station Eleven. Se você curte o gênero, vale a pena tentar alguns dos livros a respeito.
É isso, só o começo. Tenho expectativa de escrever mais nos meses que seguem, e documentar o estudo que tenho programado em IA. Vale acompanhar :)
Escrevi um relato sobre uma travessia que realizei enquanto estive em Chalten, caso voce goste desse tipo de conteúdo. A Vuelta al Huemul é uma trilha de três dias em meio a geleiras, morenas, subidas incríveis e águas cristalinas.
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