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Foto do escritorVictor Hugo Germano

A Vuelta al Huemul - Relato



Minha estratégia foi tentar ir o mais leve possível, pra não ter perrengue com peso. Minha mochila carregada deve ter ficado abaixo dos 15kg. Ainda acho que daria pra abaixar um pouco mais, se eu tivesse só uma lona pra dormir em baixo. Mas seria arriscado em caso de chuva e vento. Bivacar seria a melhor opção. Ainda assim, minha mochila tinha o essencial: barraca pra 1 pessoa, thermarest e saco de dormir, cozinha com jetboil genérico e uma troca de roupa seca. Comida pra 4 dias com liofoodz e muito alfajor Chalteños!


Primeiro dia de trilha


A caminhada começa constante e sincera, sem grandes elevações através de uma pastagem muito bonita que te permite ver todo o complexos do Fitz Roy de um ângulo privilegiado! A parte de trás do Cerro Solo parece incrível!


Com uns 14kg nas costas segui bem na trilha e ultrapassei algumas pessoas. Como havia esquecido meu neoprene de joelho, fiquei um pouco preocupado com como seria o restante da travessia, uma vez que tem várias descidas íngremes.

Me debati um pouco com isso mas acabei aceitando e encarando. Como dizem por aqui: fecha a cara e toca cabrón!


Senti o cansaço dos dias de viagen já no primeiro dia devido a uma grande bajada para chegar ao Lago Toro, rumo ao primeiro camping. São quase 5km de descida até chegar ao platô que acessa o Lago Toro.


O camping eh incrível e as covas de barraca são feitas com os galhos caídos das árvores dando um aspecto interessante e ao mesmo tempo intimidador. Curti!


Arrumei uma cova distante e bem isolada, montei a barraca rapidamente e fiz um café. O Jet Boil funcionou bem e eh bastante eficiente pelo que percebo, espero ter gás pra todos os dias


Cansado, dei uma bodeada séria na barraca e não estava com muita energia nem pra interagir no camping nem passear.


O próximo dia é a primeira tirolesa.


Fiz a trilha em 5:00, e me pareceu um bom tempo, dado que meu joelho doeu um pouco.

Meu saco de dormir novo eh muito bom 😘🤣✌️

Agora eh fazer a liofilizada e descansar bastante pra amanhã


Segundo dia de trilha


Esse foi o dia mais tudo que já fiz numa trilha, por um monte de fatores.

Comecei o dia com mais uma liofoods e rapidamente desmontei acampamento no Lago Toro pra seguir a subida de mais de mil metros de elevação que levam ao mirador do glaciar continental, o Passo al Viento.


Primeiro desafio foi achar a trilha pra chegar na tirolesa que dá acesso à subida. Fiz algumas escalaminhadas pra tentar seguir as pedras e acabei numa prainha com um rio de geleira passando. Sem tentar muito resolvi atravessar, caminhando as duas pernas de rio que despontavam. Eu já tinha atravessado num rio assim antes, sem grandes problemas apesar do frio.


Ao meu lado vi um casal já tirando os tênis e a calça pra seguir, e eu me empolguei e resolvi ir junto. Resolvi passar num trecho mais estreito, mas com uma corredeira um pouco mais forte - nada demais pensei. Nisso vi os casal ao meu lado atravessando o trecho mais largo, com água até o joelho. Enquanto tomava coragem uma outra pessoa passou e atravessou, daí não teve jeito. Levantei a calça até onde dava e coloquei os tênis pra cima e segui, mas não contava que essa parte do rio era bem mais funda, e acabei me molhando até a altura do umbigo, molhando a mala da câmera, toda minha calça e camiseta! 🥶


O frio era insano! Imediatamente perdi a sensação dos dedos! Tirei a roupa e me sequei, pegando na mochila minha toalha, uma segunda pele e outra camiseta. Foi quase uma hora pra voltar a sentir a ponta do dedo 🤭 mas tudo normal até aí. Outras pessoas atravessaram e disseram que a tirolesa estava muito lotada, nem caso, melhor pela água mesmo!

Coloquei as roupas para secar do lado de fora da mochila e comecei a subir. Não era a melhor visão “trilheiro hipster” mas deu certo! Ao seguir a trilha pude ver o trecho da tirolesa super lotado. Provavelmente muitas pessoas pouco experientes nos procedimentos acabaram formando a fila. Segui pra maior subida do dia, mais de mil metros de elevação.


A primeira parte da subida eh tranquila, e leva a um glaciar, que você acaba tendo que atravessar de tênis. Minha primeira vez num glaciar e foi incrível! Por sorte encontrei Élida, máquina que vive em Chalten e estava fazendo toda a volta em 1 único dia, e seguimos pelo glaciar conversando e ela me explicando tudo sobre travessia de glacial! Baita aula!

Passamos o glaciar e ela seguiu na frente e eu toquei no meu ritmo até o Paso Del viento, que é o primeiro mirador do Glaciar Continental! Que vista espetacular! Não dá pra descrever a imensidão de gelo e montanhas naquela região! Baita privilégio! Foram 4:30 horas subindo até aqui. O Campo de Hielo Sur é maravilhoso!



Como a subida foi muito dura, eu já estava ouvindo as vozes internas me dizendo para acampar no próximo camping. Essa trilha é pra ser feita em 4 dias, e já estava quase decidido a ficar no segundo camping, curtir a vibe da montanha e descansar. A descida do Paso del Viento é tranquila e a trilha até o segundo camping é suave. Mas estava cansado e de cabeça feita com a vista.


Nisso vejo a Élida novamente, empolgada com a jornada dela e metendo a maior pilha pra eu seguir a trilha. A previsão para o próximo dia não era das melhores e atravessar o passo huemul com vento e/ou chuva é a pior possibilidade. A empolgação dela me pegou e resolvi seguir o ritmo, e tentar dormir mais pra frente, caso cansasse. Seguimos por 1 hora num passo rápido, batendo papo e falando da trilha. Nessa hora bateu a empolgação e quando vi já estávamos há quase 2 horas caminhando e avançando na trilha! Se não fosse essa interação eu talvez não tivesse seguido.


Ela seguiu na frente no ritmo, completando a volta inteira em 18hs! Eu segui metendo o pé, já meio em transe com o ritmo que tinha conseguido manter. Minha estratégia de trilha é sempre a mesma: eu dificilmente paro para descansar. Tento fazer o máximo andando, e mini pausas pra foto e encher garrafa. Tiro a mochila das costas em último caso. A lei da tartaruga: constante, fiel e certeira.


Passei por um casal americano jovem que estava fazendo também a volta em 3 dias. Super simpáticos, batemos papo enquanto eu enchia a garrafa de água e toquei a trilha. Eles tinha saído na frente mais cedo, e descansavam um pouco antes de seguir, fiquei feliz em alcançá-los: eles sao jovens, mas nois é ruim!





A subida pro Passo Huemul é bem exposta, e não dá pra passar com vento: estreita e seguindo um desfiladeiro por bastante tempo, até que chega a “real subida” até o passo - que é um Sendero muito íngreme, e com o vento começou a acelerar e me ajudar na trilha. Vento não tão forte, uns 30km/h, mas que já dificulta situação se vem do lado errado. A vista do passo também é maravilhosa e dá acesso ao Lago Viedma, que é onde o gelo desemboca.


E então veio, depois de 10 horas de caminhada, o pior trecho pra mim: a descida para a Bahia de Los Témpanos. Basicamente é um escorregador de terra, super íngreme que dá uma diferença de uns 800m de elevação em 1,5km! Era melhor ter feito 20 rapeis do que esse trecho. Simplesmente destruiu meus joelhos. Levou 1:30 pra descer… enfim, cheguei.

Cheguei na Bahia de Los Témpanos quebrado e dormi imediatamente depois de arrumar a barraca e fazer a liofilizada do dia.


O celular marcou 32km caminhados 🥵



Terceiro dia


Acordei cedo, ainda dolorido e cansado, pro último dia longo de caminhada!

Pude ver melhor a praia, que é linda, com icebergs flutuando na sua frente no cenário mais meditativo que já estive!


Uma pena que o camping não reflete isso: muitas pessoas largam papel higiênico por todo o canto do camping, inclusive indo ao banheiro do lado de uma fonte de água. Evidentemente tudo está contaminado. Sorte que tinha sobrado água na garrafa suficiente pra fazer a liofilizada. Comecei a trilha sem nenhuma água e segui por mais de uma hora até achar uma fonte confiável. Uma pena.


O dia começa e termina em meio a pastagens e charcos formados pela água de desce do Huemul e desembocam no lago. Vista incrível, e de manhã cedo com o sol recém subindo foi muito bacana dar a volta em direção ao fim da trilha.


Estava empolgado com o dia anterior e pensativo sobre como o suporte da Élida foi suficiente pra eu tomar fôlego e seguir - tinha me esquecido o quanto eu consigo aguentar de sofrimento e seguir na trilha. David Goggins ficaria orgulhoso 🤭 (I carried the logs that day 💪🏾)



Mais ainda faltavam mais de 25km pra terminar a trilha, que quando sai do lago em direção à tirolesa, fica bastante homogênea. Olhando para as montanhas, percebo que atrás, de onde caminhei ontem, o clima está totalmente fechado. Decisão acertada meter o pé e encurtar o tempo da travessia. Aqui, vira uma burocracia de subida e descida, e eu só abaixei a cabeça e segui caminhando.


Atravessar a tirolesa foi divertido, passando por um rio caudaloso, e seguir para o final da trilha, que oficialmente termina na Bahia Túnel, caso você tenha marcado um transfer pra Chalten. Óbvio que eu não fiz isso, então tive que encarar mais uns 10km de pastagens e vento contrário pra chegar na cidade, a tempo de tomar uma com os amigos 🍻

Nesse dia foram 27km caminhados e um total de 70km de travessia!


A Vuelta ao Huemul foi uma das trilhas mais duras que já fiz, e nesse momento atual meu, serve para me lembrar do quanto de gás ainda tem esse corpo surrado. Me sinto feliz que ter feito a trilha com as vistas mais espetaculares que já vi!


Link importante:

- GPX e Guia da trilha (o final está desatualizado, mas basta seguir a trilha demarcada que é tranquilo)


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